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quarta-feira, 30 de julho de 2008

O RETORNO DA ONÇA-PARDA À ARARAS E REGIÃO

Numa certa data de 1990, Araras foi pega de surpresa com uma surpreendente notícia. Naquele dia, os colunáveis, esportistas e políticos tiveram que se conformar ao se ver seu brilho ofuscado pela sombra de um insuspeito animal: com 60 quilos de puro músculo, garras cortantes e instinto matador, uma onça-parda (Felis concolor) fora morta às margens do rio Mogi Guaçu, no sítio de Geraldo Jesus Ramos, pescador que, acidentalmente, a caçou numa armadilha de capivaras. Infelizmente, Geraldo cometeu o desatino de matá-la com a intenção de aproveitar o seu couro. Denunciado, foi autuado e processado por crime ambiental.

Um guarda florestal da unidade local, o que me passou as informações acima, citou que, em 2006, em certa estrada da cidade de Iracemápolis, foram atropeladas, no mesmo local e em circunstâncias diferentes, três onças da mesma espécie. Em 1997, um exemplar adulto foi atropelado na rodovia que liga Pirassununga à Analândia (foto). Ela foi encontrada morta às margens da estrada e foi trazida para Araras pelo amigo Joemilson Ramos para que eu a fotografasse. Na década de 1980, dizia-se que uma outra fora morta nas matas da fazenda Mata Negra. No final da década de 1990, José “Zéca” Daltro, ao descer o Morro da Corredeira, nas Cascata, viu um exemplar em pleno dia atravessando a pista que leva aos ranchos de pesca. Um outro amigo contou-me que na curva da estrada que dá acesso à fazenda Riachuelo, uma onça-preta, também conhecida como jaguaretê – forma negra mielínica da onça-pintada – foi atropelada por um caminhão em 2004. Um colega seu, caçando na fazenda Santa Cruz certa vez, foi perseguido por uma onça-parda. Ela fugiu quando ele disparou um tiro em sua direção.

A DELICADA SITUAÇÃO DA ONÇA-PARDA

Apesar de fazer parte da lista oficial de animais em extinção do IBAMA, a população de onças pardas vem aumentando em muitas regiões do país onde há muitas décadas não eram vistas. Apesar de estar incluída na lista brasileira de animais em extinção, seu numero vem aumentando visivelmente. Uma reportagem da revista Veja de setembro de 2005, cita que, no Brasil, as onças suçuaranas, como também conhecidas, estão se tornando freqüentes em torno das cidades e áreas rurais. “Recebemos de dez a vinte chamadas por ano para retirar onças-pardas dos sítios, ruas e até das casas das pessoas, e esse número cresce ano a ano”, diz Rogério de Paula, coordenador do programa de conflitos entre predadores e populações humanas do Centro Nacional de Predadores do Ibama. Elas têm sido observadas, inclusive em áreas urbanas ou de grande densidade populacional, como a Serra da Cantareira, no entorno de São Paulo, Ribeirão Preto, Peruíbe, Sorocaba, Uberlândia e Brasília, etc. Nos dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, elas são vistas em plena luz do dia cruzando estradas vicinais e trilhas de matas. Em Minas Gerais, ela é o novo freqüentador do colégio de Caraça depois do lobo-guará, que começo a aparecer por ali a partir do inverno de 1982. O pessoal orienta as pessoas a não se assustarem com as suçuaranas, “pois elas não costumam atacar as pessoas. (...) ela come bezerros, cabritos e até cachorros, mas não vê a gente como presa". Em Araxá, começaram a registrar a ocorrência de mortes em rebanhos bovinos causadas por suçuaranas. Na fazenda Santa Lúcia, cujo rebanho atinge 5.500 cabeças, num ano foram mortos 400 animais. Hoje a fazenda tem cinco cães de caça da raça maremano e os ataques são mínimos, “só ocorrem quando os cães não estão perto”. “Uma onça parida, com dois filhotes, pode matar 70 bezerros num ano”, afirma o presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira. Na reserva florestal das Indústrias Klabin de Papel e Celulose, no Paraná, ao se realizar um censo para verificar a quantidade de animais silvestres existentes, os pesquisadores tiveram uma surpresa: eles verificaram que aumentou o número de suçuaranas na reserva. Já existem cerca de cem exemplares naquela área, composta por 100 mil alqueires de floresta plantada e 85 mil alqueires de mata natural.

As suçuaranas se encontram em risco permanente por vários motivos: a especulação imobiliária em áreas rurais, o perigo de atropelamento nas estradas, os caçadores clandestinos, a degradação das áreas verdes, a falta dos chamados corredores ecológicos. Para complicar, para elas perambularem, caçarem, abrigarem-se e procriarem, necessitam de territórios relativamente amplos (40 a 50 km2, ou cerca de 5 mil campos de futebol). O fato de elas estarem sendo vistas nos “sertões” ararenses, é um claro sinal de que, aqui, elas estão encontrando relativas condições de sobrevivência, mas isso não indica que elas estejam vivenciando um boom populacional – para uma espécie “vingar” em uma determinada área requer-se pelo menos 2 mil indivíduos. Segundo o maior especialista em felinos do país, o zoólogo Peter Crawshaw, do Ibama, “A população de pardas gira entre 30.000 e 50.000 e está caindo”.

DISTRIBUIÇÃO, HABITAT, ALIMENTAÇÃO E MANIFESTAÇÕES

A onça-parda era o felino de mais ampla distribuição do Continente, e podia ser encontrada desde o Canadá até o Estreito de Magalhães. Por estar no topo da cadeia alimentar, ela está entre os primeiros animais a serem prejudicados pelos danos ambientais. Pode atingir 1,30m e pesar de 30 a 90 kg, dependendo da região que freqüenta A reprodução ocorre a cada dois anos aproximadamente, com ninhada de 2 a 4 filhotes, e seu período de vida é de aproximadamente 15 anos. É um animal solitário e caça sempre ao entardecer. De alimentação bem vasta, também persegue cervos, alces, ratos, lebres entre outros, atacam cavalos, gados e galinheiros de fazendeiros. A polícia florestal local , até o momento, não registrou ataques de onças à animais domésticos, tampouco à criações, o que indica haver fartura de presas selvagens, como, p. ex., o coelho tapiti, que vive em capoeiras e canaviais, e do qual a onça-parda pode caçar diversos exemplares numa só noite.

Quem ouvir pelos matos sons semelhantes ao gato doméstico, porém mais altos, pode se tratar de uma onça-parda. Ela costuma vagar por matas, campos, pastagens e capoeiras, e, às vezes, é obrigada a atravessar estradas e, também, o caminho do mais temível de todos os predadores, o Homo sapiens.

ONÇAS NA ARARAS ANTIGA E REGIÃO

Numa matéria publicada na Tribuna do Povo em 1935, dentre os animais proibidos de se caçar em todo o território nacional pelo Serviço de Caça e Pesca, as onças não estavam na lista. Curiosamente, se lia:

“Quando ocorrem em zonas de plantações ou de criação, mediante requisição ao Serviço de Proteção e Pesca, poderão ser caçados os seguintes animais: onças, gatos do mato, raposa do campo, jacaré, aves granívoras (papagaios, periquitos, pombas, sanhassos e melros).”

Em agosto do mesmo ano, novamente a Tribuna publica outra matéria sobre o tema:

“Conforme edital que vem sendo publicado no ‘Diário Oficial’ e de acordo com o art. 119 do Código de Caça e Pesca, encerrar-se-á a 31 do corrente a atual estação de caça neste Estado.
Até de abril do ano próximo, o exercício de caça estará proibido e as estrada de ferro e outras vias de transporte não poderão receber para despacho quaisquer animais selvagens, vivos ou mortos, de pelo ou não, salvo ordem especial do Departamento de Indústria Animal.”

A foto ao lado, é de uma caçada realizada próximo à Porto Ferreira em 1939, em que o autor do livro disse ser a última onça capturada na região. O exemplar é uma onça-pintada (Panthera onça), ao que se sabe, extinta na região, mas se é verdade que se atropelou aquela onça-preta, é provável que a pintada exista na região.

Martinho Prado Júnior, proprietário da fazenda Campo Alto em Araras, recordando-se do antigo dono de sua fazenda – a Guatapará – em Ribeirão Preto, comprada em 1895, escreveu:

“Todas essas glebas que estava percorrendo tinham pertencido ao já falecido,na época, tenente Antonio de Souza Diniz, grande sertanejo que chegou a possuir 68 mil alqueires e ainda queria adquirir maior área porque “os filhos e filhas estava aumentando e a caça estava ficando rara”. Os descendentes desse terrível caçador de onças herdaram a sua paixão. Um deles, o Capitão Gabriel Junqueira, médico, advogado, juiz, árbitro popularíssimo, tinha no seu ativo 86 onças pintadas. Até hoje, depois de quase um século, os Junqueiras ainda conservam o prestigio da família e a mesma paixão pela caça”.

O caçador e pescador Francisco de Barros Júnior, em seu livro Caçando e Pescando por todo o Brasil (3ª série), em cena passada provavelmente na década de 1930, traz a história de um pescador que se deparou com uma onça às margens do rio Mogi Guaçu:

“Contou-me velho caçador, que, certa vez, no Mogi Guaçu, estava nos galhos de uma grande árvore tombada sobre o rio mas ainda presa ao barranco pelas raízes, à espera de uma anta que os cães haviam levantado, e dos quais não tinha notícias havia mais de uma hora.
Com a arma carregada a bala, atravessada sobre as coxas, ocupava-se em picar fumo para um cigarro. De onde estava, até o barranco, haveria uns oito ou dez metros, e sua posição o colocava de costas para ele. Perdido em pensamentos por um negócio que o preocupava, nem se lembrava da corrida, quando sentiu estremecer de leve o galho em que estava sentado. Olhou meio desinteressado por cima do ombro direito, e viu uma enorme pintada já sobre o tronco, encolhida como para saltar. ‘Fiquei frio e angustiado, disse-me ele; pensava em como poderia defender-me apenas armado daquela faquinha de ponta, cujo comprimento não chegava a um palmo!... E assim nos encarando, ficamos por alguns segundos, que para mim duraram uma eternidade. Por fim, talvez como válvula de escape para a tensão em que estavam meus nervos, larguei num berro de pavor, ao mesmo tempo em que estendi para a frente, como ameaça, o braço armado com a faca. Saaai Diaaabo! A fera assustando-se, deu um salto, embrenhou-se na mata. Só então é que me lembrei da espingarda...’
Isso por certo, foi o que aconteceu àquele nosso saudoso amigo...”

MORTES POR ATAQUE DE ONÇA

A única morte por ataque de onça registrada no Brasil foi a de uma criança, nas cercanias da cidade de Carajás, Pará, em 1992. No EUA, entre 1890 e 1990, elas mataram seis cidadãos, afirmou o biólogo Paul Beier, da Universidade da Califórnia. “Mas de lá para cá, um período bem menor, já pegaram outros quatro”, alertou. Apesar de a suçuarana ser um animal arredio, é bom não facilitar e procurar não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, se colocando num lugar seguro e bem iluminado de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro. Suas garras são bastante fortes, o que os tornam ótimos trepadores de árvores, além disso são capazes de grandes saltos, podendo chegar a seis metros de extensão quando está caçando, ou saltar muros de cinco metros e mesmo saltar de lugares com quinze metros de altura.

Com as novas leis ambientais coibindo a caça, e a proibição do uso particular de armas, a tendência agora é que sua população aumente e creio que não será difícil aos que freqüentam as regiões isoladas de Araras se depararem com uma. É conveniente não ir sozinho para os campos, matas e rios e, mantendo-se constantemente vigilante, procurar se colocar num lugar seguro, de onde se possa avistar toda a redondeza e, assim, procurar evitar um provável ataque traiçoeiro.

Os cientistas são da opinião que é possível conviver pacificamente com esse felino, desde que eles não fiquem sem comida. O maior caçador de onças no país, o Tonho da Onça, de Rondonópolis – 600 onças mortas no currículo e hoje convertido ao conservacionismo –, concluindo que ela não tem culpa nos incidentes em que está envolvida, sentenciou numa breve frase o real problema da onça-parda no Brasil: “Aquilo é fome”.

Tem gente que acha que elas não tem nenhum papel de importância na natureza, mas cientistas afirmam que os carnívoros influenciam a composição vegetal de um ecossistema e o processamento da energia solar na Terra, ou seja, o modo como o predador age afeta o quão verde pode ser o ambiente – é como se o tipo de vegetação predominante estivesse ligado ao modo como as onças fazem as caçadas – vagando em buscas de presas ou ficando parados para fazer emboscadas. Mas o que isso tem de bom ou ruim? A perda dos mais altos predadores da cadeia, no qual as onças se incluem, pode afetar o resto das espécies, seja na sua abundância, seja na sua diversidade. Em última análise, a presença ou não de onças numa região serve como indicador de qualidade ambiental: quanto mais onças numa mata, maior a biodiversidade geral da vida que existe nela. Infelizmente, existe quem, mesmo sabendo dos riscos pelos quais ela passa, defenda a idéia de que as elas devem ser invariavelmente mortas. À estes recomendo uma célebre frase do escritor Bernard Shaw: “Quando um homem quer matar um tigre, diz que é esporte; quando um tigre quer matá-lo, diz que é ferocidade”...

FILHOTES DE JAGUATIRICA SÃO ENCONTRADOS EM CANAVIAL DE ARARAS

Uma outra espécie de felino que também pode ser encontrado na cidade é a jaguatirica (Pantera pardalis): em 11 de março de 2008, três filhotes foram achados por cortadores de cana num canavial do município. Os três – duas fêmeas e um macho – foram abandonados pela mãe, que provavelmente sentiu a presença do homem nas proximidades do ninho e fugiu, largando para trás a cria. Os animais, com cerca de uma semana de vida, foram levados inicialmente para uma clínica veterinária em Pirassununga, a 213 km da capital, onde foram alimentados com leite de vaca, creme de leite, ovo e vitamina.

COMO AGIR SE VOCÊ SE DEPARAR COM UMA ONÇA:

- Tente parecer maior do que é. Levante os braços e fique nas pontas dos pés;
- Não se deite nem finja de morto. Ela ataca na hora. Se você se agachar, ela pode pensar que você é um quadrúpede. Só vai fazê-la lamber os beiços...;
- Grite, jogue coisas, ameace partir para a luta. Acredite: ela tem mais medo de você do que você dela;
- O mais importante: não fuja. Sair correndo de um predador assim é quase como pendurar no pescoço um aviso "sou uma presa". E ela é mais rápida...


BIBLIOGRAFIA

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