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terça-feira, 20 de agosto de 2019

WOODSTOCK, A CONTRACULTURA E A DITADURA

O que quero mostrar neste post é que, mesmo nos chamados "anos de chumbo", eles foram tempos incríveis, intensos e criativos para nossos artistas nas mais variadas áreas, seja música, seja teatro, seja literatura. Parece até que a repressão estimulava a criatividade, como numa espécie de revolta, ou mesmo vingança, e esta não é opinião só minha. Mesmo com todos os medos e limitações, analisando os trabalhos que deixaram, notamos claramente que eles deram o melhor de si e criaram obras fantásticas naquele que é um dos períodos mais fecundos e criativos deste País, ou seja, o fenômeno da Contracultura por aqui.

Leiam este trecho de reportagem (sobre os 20 anos de Woodstock e sua repercussão no Brasil), a cargo de um dos ícones desse movimento no Brasil, o Antonio Bivar (1939), escritor e dramaturgo brasileiro - sujeito que abraçou a onda hippie e o drop out, e viveu intensamente esta época. Notem que, a certa altura, ele confessa com sinceridade, falando como que em nome da galera daquela época: "Na verdade, mesmo com todos os seus momentos difíceis, foram, por assim dizer, os melhores anos de nossas vidas."

Mas aonde quero chegar? Pois bem: esse depoimento deve analisado e ser levado em conta pelas novas gerações, de modo que saibam que mesmo com a "guerra" e aquela repressão toda, as perseguições, as censuras, o exílio de alguns, o escambau, os artistas em geral curtiram muito, criaram demais, deixaram obras-primas definitivas e eternas.

E vou mais longe ainda, e vou fazer uma pergunta aos músicos de MPB, aos rockeiros, aos teatrólogos e escritores da época. Amigos, digam se, na verdade, lá no fundo, vocês não queriam voltar à essa época instigante, e digam também se ela não foi a melhor de suas vidas com as obras que lançaram, os shows que fizeram, as peças que encenaram, as viagens pelos País, os festivais, a galera da época, aquele período mágico de criação?

E quem escreve aqui é também, de certo modo, uma testemunha ocular da história, de modo que endosso a colocação do Bivar sem pestanejar, pois, mesmo naquela minha fase de menino à adolescente (no auge da Contracultura), eu acompanhei tudo e me joguei de corpo e alma no movimento: no dia-a-dia, nos shows que ia, nos programas de TV que assistia, nas revistas que lia, nos discos, revistas e livros que comprava, etc. , e posso garantir que nada foi melhor e mais incrível que aquilo tudo, e tanto o é que essa geração de artistas faz sucesso e é endeusada até hoje pelas novas gerações, e tenho a certeza que serão eternos!

Enfim, a benção, Bivar! Evoé, Contracultura!


terça-feira, 24 de outubro de 2017

LIGAÇÕES ENTRE BEATLES, RICHIE HAVENS, PETER GABRIEL E STEVE HACKETT.

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O cantor negro Richie Havens, em 15 de agosto de 1970, fez uma performance lendária no festival de Woodstock, e depois, em 30 de agosto do mesmo ano, cantou "Strawberry Fields Forever" dos Beatles no festival da Ilha Wight, uma noite furiosa de tempestade e trovões. O Caetano Veloso, que estava lá com o Gil, disse que foi uma interpretação fantástica. Não encontrei esta gravação ao vivo, infelizmente.

Coincidentemente, em 1976, o ex-vocalista da banda progressiva Genesis - que tem uma voz rouca muito semelhante à do Havens -, participou de um disco que tratava da Segunda Guerra Mundial, o "All This and Word War II", onde cantou a mesma canção dos Beatles numa interpretação muito bonita e tocante, talvez até mais bela que a do Havens.

Mais coincidentemente ainda, o guitarrista do Genesis, o ótimo e inspirado Steve Hackett - que também se encantou com a apresentação de Havens no festival da Ilha Wight -, muito provavelmente procurando um cantor com voz semelhante à do Peter Gabriel para cantar uma composição sua, a belíssima "How can I?" (disco "Please don't touch", 1978), se lembrou de Havens e o convidou para interpretá-la. 
Lembro-me da primeira vez que ouvi  "How can I?" e pensei que o Hackett havia regravado Beatles.Ouvindo ambas as canções na interpretação dos três, dá para cogitar que Hackett deva ter se inspirado em "Strawberry..." para compor "How Can I?", e talvez seja este o motivo de eu achar que esta última era uma canção dos Beatles. Ouçam-nas e notem que, no mínimo, ambas tem o mesmo apelo emocional.

Eis aí, amigos, mais uma destas incríveis "coincidências" e maravilhas do mundo do rock!
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RICHIE HAVENS - "STRAWBERRY FIELS FOREVER":

 

 PETER GABRIEL - "STRAWBERRY FIELS FOREVER":


 STEVE HACKETT E RICHIE HAVENS - "HOW CAN I?":


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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

JIMI HENDRIX, O "DOMADOR DE RAIOS": O ESTILO E A ARTE DA IMPROVISAÇÃO

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O guitarrista Faiska - músico que admiro, que dispensa apresentações e é mestre em seu instrumento -, em recente entrevista à revista Guitar Player (nov. 2013), declarou num determinado trecho que "Ninguém improvisa o tempo todo. Solos inéditos, em minha opinião, não existem. Sempre nos repetimos e isso é que faz o estilo de cada um." Discordo da opinião do Faiska, e acho até contraditória sua colocação, pois subentende-se que quem está improvisando está criando coisas novas, inéditas...


Há pelo menos um músico, ao qual, pela sua própria genialidade, a opinião do Faiska não pode ser aplicada: nada mais nada menos que Jimi Hendrix. No meu entender e conhecimento, após décadas e décadas ouvindo e dissecando o estilo e a genialidade de Jimi, acredito que existem sim músicos que fazem solos inéditos, e que nem sempre os músicos se repetem improvisando. Mas acontece que o jazz, p. ex., está cheio deles. A verdadeira repetição só se dá à quem execute um solo através de uma partitura, e, do contrário, o que um guitarrista faz no máximo é repetir os truques e licks que aprendera, fazendo variações na escala. Na verdade, não esqueçamos que mesmo se executando uma música através de uma partitura, há execuções boas e ruins - a inspiração e interpretação contam muito -, e, p. ex., mesmo a versão de um maestro e sua orquestra para um famoso tema clássico pode ser superior à de outro maestro.

Quero afirmar com isso, que o Jimi Hendrix é um caso à parte, pois houveram coisas incríveis que ele fez que só se realizaram no momento da interpretação. Hendrix não planejava os solos, mas, com certa frequência, criava coisas na hora como que tirando truques inéditos da manga ou da cartola - era imprevisível, ao contrário da maioria dos melhores guitarristas de rock. Raros são os guitarristas sem vícios e clichês, que improvisam e criam coisas do nada - a maioria, ouvindo-os improvisar, a gente quase advinha o próximo passo que eles irão dar, fato que não se dá com o Hendrix! Ouvir Jimi improvisando era ouvir um músico inspirado e criativo inventando coisas jamais ouvidas - a coisa nascia ali, na hora, ao vivo! Há um termo em latim que define bem isto: Ex nulla re, ou seja, a criação de coisas a partir do nada.

O próprio engenheiro de som de Hendrix, o Eddie Kammer, definiu bem isso: "Sempre que ele fazia alguma coisa no estúdio - tocava uma guitarra ou usava um pedal - era um acontecimento. E eu ficava pensando: 'como vou fazer com que isso fique ainda melhor?'" Lembremos que um "acontecimento", por definição, é sempre uma coisa nova e inédita.

A pergunta que fica é: como é que ele poderia criar truques tão maravilhosos - verdadeiras joias da arte da improvisação -, e depois nunca mais repeti-los? Seria, antes que um desperdício, um enorme contra-senso. E convém não esquecer - o que é estranho -, que ele costumava gravar todas as  jams e shows que podia para ouvi-los depois e ver o que era aproveitável!...

No disco "The Genius of The Jimi Hendrix", lançado no Brasil em 1978, e com sessões de gravação feitas em 1966 (vídeo abaixo), pouco antes de ele ir para a Inglaterra, aos 4:50 minutos da canção "People, people", o Jimi faz um lick de blues tradicional, mas ao seu modo - de uma maneira inusitada e genial -, mas em tudo o que já ouvi dele depois - o que não é pouco -, ele nunca mais repetiu este lick desse modo! Ele foi utilizado em outros blues seus, mas nunca tocados dessa maneira.


"Peoples, Peoples" (1966)

Basta ouvir as várias versões de "Machine Gun" e "Hear My Train a Coming", e até mesmo (absurdo!) de "Little Wing", para constatar que Hendrix improvisava o tempo todo, mas sempre contava a mesma história de uma maneira diferente. Não há como negar que a versão de "Hear my Train..." do disco "Rainbow Bridges" (show em Berkeley, na California, no dia 30-5-1970), é fantástica e diferente de qualquer outra (veja o vídeo abaixo). A versão de "C# Blues - Bleeding Heart (People, People)", do disco "Experienced" (ver vídeo abaixo, trilha sonora do filme, de show no Albert Hall, Inglaterram 24-2-1969), é um caso à parte, uma versão onde ele faz coisas jamais feitas em outras versões, e muito provavelmente são as tais coisas inéditas que o Faiska não acredita... O desfecho da música é lírico, sutil e elegante, e não me recordo de ele finalizando um outro blues seu dessa maneira.



"Hear my Train a Coming"



"C# Blues - Bleeding Heart (People, People)"

Acredito que o solo mais violento, e um dos mais indecifráveis, que o Jimi fez em toda sua carreira, foi numa apresentação em um show no programa da cantora Lulu (a do "Ao Mestre com Carinho"), onde o Jimi destilou toda a sua raiva e violência após saber que a cantora havia depreciado o Cream com suas opiniões a respeito da banda. À partir dos 2:57 minutos da execução de "Voodoo Chile" (vídeo abaixo), não sei como, ele faz a guitarra rosnar e bufar agressivamente! - parece que ela vomita o som e o arremessa contra o ouvinte! Aliás, acho isto a coisa mais violenta jamais feita por um guitarrista de rock! Coloque em alto e bom som e tente entender o que ele fez, pois a câmera não mostra, infelizmente! Não estou falando em violência de solos tipo "Eruption" ou um solo ultra rápido do Malmsteen - a coisa é outra: ele "humaniza" o solo, ou melhor, a guitarra tem voz animal, orgânica e sentimentos de raiva! O trecho começa com um silvo ou assovio incomum numa guitarra, e depois descamba naquela agressividade toda, que deixa entrever toda a sua raiva ante o posicionamento infeliz da cantora. 

Outro ponto interessante deste show, foi em relação ao som do contrabaixo, que estava demais. E deve ter sido este timbre e potência de contrabaixo que, certa vez, embasbacou o guitarrista Larry Coryell, que assitia à um show da banda, quando afirmou que era o melhor som de contrabaixo que ele havia ouvido para esta linguagem!


E o mais incrível é que eu nunca mais vi ele fazendo isto do mesmo modo em outro solo durante toda sua carreira, porém, na canção "House Burning Down" (vídeo abaixo, ver aos 3:58 minutos), do disco "Eletric Ladyland", há outra variante desse truque que pode ser ouvida ao longo da música, mas não com o mesma violência com que foi empregada no show do programa da Lulu.


"House Burning Down"

Para fechar este texto com um exemplo primoroso da arte de Jimi Hendrix, como afirmar que a interpretação do Hino Nacional Norte-Americano em Woodstock foi uma repetição, se Jimi nunca improvisara esta canção daquele modo?! A versão pode ser julgada numa palavra: perfeita! Como dizer que alguém não faz coisas inéditas e se repete, usando tudo o que havia ao seu alcance para interpretar uma música? Além das cordas, alavanca, pedais e palheta, havia o pedestal do microfone, um anel ocasional, o cotovelo, os dentes e o genial uso controlado da microfonia?! "Star Spangled Banner", na versão de Woodstock, é - me permitam um neologismo - irrepetível, uma versão que músico algum conseguirá executar e interpretar como Jimi, que ele fez, acredito, coisas indecifráveis ali que só um gênio faria!

Enfim, amigos, a verdade nua e crua é que Hendrix era um improvisador por excelência, no que ele ultrapassava os limites da lógica. Em suma, ele era a própria definição do seu estilo em particular - tinha sua própria marca registrada sonora, e não foi à toa que a crítica de rock Ana Maria Bahiana criou uma excelente expressão para definir a maestria de Jimi: "Domador de Raios"!... 


"Star Spangled Banner" - Woodstock, 1969

sábado, 15 de agosto de 2009

HOMENAGEM AOS 40 ANOS DE WOODSTOCK, O FESTIVAL DOS FESTIVAIS

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Há exatos 40 anos atrás, nos dias 15, 16 e 17 de agosto do distante ano do verão do hemisfério norte de 1969 – apenas um mês depois da célebre chegada da Apollo 11 à Lua –, o mundo se surpreendia com uma nova façanha humana, mas desta vez no próprio planeta Terra: o não menos célebre festival de Woodstock. Sem sombra de dúvida, se existiu um evento onde qualquer jovem de qualquer época sonharia participar, este evento era Woodstock. Oriundos de diversas partes do mundo, uma multidão de jovens com visual propositadamente desarrumado, com roupas coloridas, ponchos e vastas cabeleiras se reuniram para curtir três dias de sexo, drogas & rock’n roll.

Vale lembrar que nenhum outro festival de música teve tanta repercussão e tanta importância como esse que é considerado o mais importante evento musical da história contemporânea. Woodstock foi um evento que primou pelo fato de ter promovido e levado ao estrelato muitas das bandas participantes, e, ao mesmo tempo, de provar como era grande o apetite do público pelo estilo de música que rolou: pop, psicodélico, rock, country e blues.

A clássica imagem do casal, ainda vivo.


Flashes do festival

OS IDEALIZADORES, O "QUARTETO FANTÁSTICO"

Woodstock foi obra de quatro jovens: John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lang. Dois deles, Roberts e Rosenman, eram dois milionários seriamente decididos a investir numa empreitada qualquer desde que ela aumentasse seu nada modesto capital. A princípio, a dupla colocou um anúncio no jornal dizendo: “jovens homens com capital ilimitado procuram oportunidades de investimento e propostas de negócios interessantes e originais”. Lang e Kornfeld não tinham dinheiro algum, mas apenas boas idéias. Na época, Kornfield trabalhava na Capitol Records e Lang era um promotor de shows que, em janeiro de 1969, organizou um grande festival (para a época) em Miami, assistido por 40 mil pessoas.

Depois, sabe-se que Lang se uniu a Kornfield, e juntos tiveram a idéia de um outro festival de música, mas faltava verba. O advogado deles os levou até Roberts e Roseman, e os quatro vieram a se conhecer em fevereiro de 1969 - foi quando acabaram se juntando para por em práticas suas idéias.ticas suas idse juntando para porem em prmo , jis de TV

Inicialmente, os quatro pensaram em montar uma gravadora independente especializada em rock numa pequena cidade longe de Manhattam conhecida como Woodstock, mas depois optaram por realizar um festival misturando cultura, música e o nascente estilo de vida ditado pela contracultura - nascia aí a "Feira de Arte e Música de Woodstock".

Em março, para organizar o evento, o membros do “quarteto fantástico” fundaram a empresa Woodstock Ventures Inc. Nova York foi escolhida para a realização do festival, pois muitos dos músicos que seriam convidados residiam na cidade, como, p. ex., Bob Dylan e Hendrix. Por volta de abril, a WVI já havia descolado um local e propagandas começaram a ser veiculadas em cartazes e comerciais nas TV dos EUA. Foram investidos 2.4 milhões, e as primeiras bandas a serem contratadas foram o Jefferson Airplane e o The Who, que embolsaram US$12 mil e US$12,5 mil, respectivamente. O cachê mais alto foi o de Jimi Hendrix, US$ 18 mil, que foi o último a se apresentar. Embora estes valores pareçam muito baixos hoje, na época eles equivaliam ao dobro do que as bandas recebiam normalmente por seus shows, o que nos mostra como o show business mudou. Em julho, apenas um mês antes da estréia do festival, inicialmente cotado para atrair 50 mil pessoas, a Câmara dos Vereadores do lugar originalmente escolhido, Wallkill, baixaram leis que proibiram a realização do festival, deixando os produtores com um prejuízo de US$ 2 milhões já investidos em estrutura de palco, som e técnicos. Felizmente, com a ajuda de um sujeito conhecido como Elliot Tiber, a WVI acabou encontrando um novo lugar: um campo de 600 acres da fazenda do leiteiro Max Yasgur, no vilarejo de Woodstock, em Bethel, a 145 quilômetros de Nova York.

O fato de o festival ter sido realizado não numa cidade grande, mas numa fazenda, enfatizava o clima reinante de “cair na estrada” e “volta ao campo”. Para atrair seu público alvo, a WVI lançou mão de todos os símbolos e chavões consagrados pela contracultura – o próprio slogan do evento, “três dias de paz e música” –, era baseado nesse conceito. Assim, sobre o festival pairou um clima de protestos antiguerra e anticapitalismo, o conceito de amor livre, o movimento de libertação das mulheres, vida em comunidade e outras reinvidicações da época. O próprio Kornfield, considerado hoje o "Pai de Woodstock" (na foto, visitando o local), explicou na época que o festival não deveria ser pensado em termos de construção de palcos, assinatura de contratos ou venda de ingressos, mas sim encarado como um estado de espírito, um acontecimento para se tornar um símbolo de toda uma época e geração.

Houve quem considerasse os quatro loucos, utópicos e pretensiosos por pretenderem realizar o maior festival de música do planeta e ambicionar reunir 200 mil pessoas. Mas Woodstock superou todas as expectativas e se revelou um verdadeiro fenômeno de massa, reunindo cerca de 500 mil pessoas e 32 artistas e bandas dos mais famosos dos anos 60.

O FESTIVAL

O festival teve início na tarde de 15 de agosto, sexta-feira, às 17:07h e se estendeu até a metade da manhã do dia 18 de agosto, uma segunda-feira. Os policiais locais, estaduais e do resto do país estavam preparados, sabiam o que estava por vir e confiavam em suas habilidades para que corresse tudo bem, seja com o trânsito, as emergências médicas, o saneamento e outros problemas inesperados. Woodstock não estava sendo cotado com um grande festival. Seria, a princípio, um festival de rock como tantos outros que ocorriam pelos Estados Unidos na época.

Na foto, Joe Cocker em sua louca performance de "With a Little Help from My Friends" , dos Beatles. Cocker, com certeza, o inventor do air guitar!


OS INCIDENTES E OS PORQUÊS

No início de agosto, cerca de 200 mil ingressos tinham sido vendidos antecipadamente, e o que tinha começado como um festival de música para aproximadamente 200 mil pagantes, teve seu número dobrado após o primeiro dia do festival.

Já no primeiro dia do evento, os organizadores se viram obrigados a transformar o festival num evento grátis, já que, simplesmente, não houve jeito de controlar a multidão que ia chegando. O problema é que não tinha jeito de abrigar tanta gente naquela área; então, quando os músicos começaram a chegar, o engarrafamento ficou gigantesco. Carros foram abandonados no meio da estrada e as pessoas tiveram de ir a pé para o show. Com todas as estradas bloqueadas, os organizadores tiveram de alugar helicópteros do exército para trazer os músicos.


Depois, a cerca ao redor do local foi derrubada, e aí mais pessoas entraram sem pagar. Com isso, os promotores tiveram US$ 100 mil de prejuízo inicial, mas depois veio o lucro: o filme lhes proporcionaria um retorno imediato de US$ 17 milhões e a glória de ser o filme que inovou a arte de registrar espetáculos musicais, além de ter ganho o Oscar de melhor documentário de 1971.

O site do Jornal Imparcial explicou o porquê de as coisas terem tomado esse rumo:

“Em entrevista no início de Woodstock, seu organizador, Michael Lang, afirmou esperar na fazenda em Bethel 200 mil pessoas entre 15 e 17 de agosto de 1969. A manchete do New York Times do primeiro dia do evento dizia o mesmo: 'Duzentos mil indo para festival de rock engarrafam as estradas ao Norte do estado'. Não demorou para que o número duplicasse, triplicasse até chegar ao ponto de não se saber quantos milhares estavam ali. O anúncio de que o festival havia se tornado gratuito e a visão das pessoas arrebentando as cercas da fazenda de Max Yasgur deram conta de que o que estava ocorrendo no interior do estado de Nova York era mais do que um festival de música.”


Havia também o problema do tempo, que às vezes ficava pavoroso. Na sexta-feira caiu uma tempestade e houve uma inundação. Centenas de pessoas estavam cortando os pés em garrafas quebradas e em tampas de garrafas. No geral, mais de 5 mil atendimentos médicos foram documentados, e muitos deles em razão do uso de drogas e álcool, que foram consumidos à exaustão.

Ocorreram também alguns problemas não menores: falta de comida; condições sanitárias precárias ou inexistentes. e preocupações do gênero. O pior de todos foi a mortes de 3 pessoas (uma overdose, um atropelamento por trator e um ataque de apendicite), além de quatro abortos, mas, felizmente, 2 ou 3 crianças nasceram, fato contestado hoje em dia, já que nunca foram localizadas. Apesar de tudo, a ação da polícia limitou-se à trabalhar na apreensão de drogas e outros casos sem maiores repercussão.

No final, a cena hilária: todo mundo embarreado pelas estradas e perguntas como “Onde está meu carro?” e “Onde estão meus amigos?” pipocavam pelo ar...


OS ARTISTAS QUE SE APRESENTARAM

- Primeiro Dia: Richie Havens; Country Joe McDonald; John Sebastian; Incredible String Band; Sweetwater; Bert Sommer; Tim Hardin; Ravi Shankar; Melanie; Arlo Guthrie; Joan Baez.

- Segundo Dia: Quill; Santana; Canned Heat; Mountain; Janis Joplin (foto); Sly & the Family Stone; Grateful Dead; Creedence Clearwater Revival; The Who.

- Terceiro Dia: Jefferson Airplane; Joe Cocker; Country Joe & The Fish; Ten Years After; The Band; Blood, Sweat and Tears; Johnny Winter; Crosby, Stills & Nash (e Young como convidado)

- Quarto Dia: The Paul Butterfield Blues Band; Sha-Na-Na; Jimi Hendrix.


CURIOSIDADES

* Até hoje há quem pergunte sobre o porquê da banda mais famosa da época, os Beatles, não terem participado do festival. É que John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr, estavam em pleno clima de separação definitiva da banda, que foi anunciada oficialmente em março de 1970, e nesta época preparavam seus discos individuais seguindo carreira solo. Os promotores chegaram a entrar em contato com John Lennon, pedindo para que os The Beatles tocassem no festival. Lennon disse que os Beatles não tocariam no festival a não ser se a Plastic Ono Band, da Yoko Ono, também pudesse tocar. Os promotores o recusaram.

* Neil Young não fazia parte da banda de Crosby, Stills & Nash. Ele apenas tocou algumas músicas com os três, e acabou, mais tarde, sendo chamado para a banda.

* A banda Iron Butterfly foi convidada para tocar, mas teve sua apresentação cancelada porque o vôo atrasou e os músicos ficaram presos no aeroporto, não podendo chegar ao local do show.

* A banda Grateful Dead tocou durante a chuva. Alguns membros da banda tomaram choques durante a sua apresentação e Phil Lesh (o baixista) ouviu o rádio de transmissão de um helicóptero através do amplificador de seu baixo enquanto tocava.

* A banda Led Zeppelin foi chamada para tocar no festival, mas o empresário da banda, Peter Grant, afirmou: “Nós fomos chamados para tocar em Woodstock e a gravadora (Atlantic) estava bastante entusiasmada, e Frank Barsalona (o promotor) também. Porém eu disse não, pois em Woodstock nós seríamos apenas outra banda na parada”. Em vez disso, o grupo foi para uma turnê de mais sucesso.

* The Doors inicialmente concordaram em tocar, pois acharam que o festival fosse ocorrer no Central Park, mas decidiram ir contra a idéia quando souberam que o festival ocorreria em uma fazenda isolada da cidade. Eram considerados uma banda com grande performance, tinham bastante potencial, mas cancelaram a apresentação em cima da hora. Ao contrário do que muitos pensam esta ocorrência não está relacionada ao fato de o vocalista, Jim Morrison, ter sido preso por postura indecente em um show anteriormente. O cancelamento do show se deu ao fato de que Morrison sabia que a sua voz soaria repugnante por estar ao ar livre. Há também a idéia de que Morrison, em um momento de paranóia, estava com medo que alguém atirasse nele e o matasse quando o mesmo pisasse no palco. No entanto, o baterista John Densmore compareceu no festival; no filme, ele pode ser visto ao lado do palco durante a apresentação de Joe Cocker, quando esse cantava o hino lisérgico “Let’s Go Get Stoned”.

* Frank Zappa e The Mothers of Invention afirmaram: “Muita lama lá em Woodstock. Nós fomos convidados para “tocar lá, mas recusamos” justificou Frank Zappa na época.

* Não se sabe o porquê, mas os Rolling Stones não foram convidados para tocar em Woodstock, mas a banda, enciumada, quatro meses depois, realizou o festival Altamont, na Califórnia. Programado para ser uma resposta da costa oeste americana a Woodstock, o evento reuniu bandas californianas e público em número semelhante ao de Woodstock, mas ficou marcado pela violência e pela morte de quatro pessoas que foram esfaqueadas por motoqueiros do grupo Hells Angels, que foram contratados para fazer a seguranças do festival. “As drogas já estavam sob controle do crime organizado”, afirmou o jornalista Joel Macedo, autor do livro Albatroz, o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60 (Editora Danprewa). “O movimento hippie mudou de mão, fugiu de controle. Em Altamont, o sonho acabou”.


HENDRIX, O PRINCIPAL ARTISTA

Jimi Hendrix foi o último a se apresentar naquele dia, às 8.30 hs da manhã de segunda-feira, onde “restavam” cerca menos de ¼ do público de 500 mil nas noites anteriores. Os que foram embora não sabem o que perderam, pois foi talvez o melhor show de sua carreira, dia em que ele apresentou sua célebre e inimitável versão do hino nacional norte-americano, em meio da qual improvisou com uma maestria jamais vista, a cena de uma batalha no Vietnã. Sua humildade impressionou antes do início do show, quando ele disse: “Vocês podem ir se quiserem, nós estamos fazendo uma ‘jam’; é tudo”... É que jam fez a banda ! Nunca, Hendrix tocara tão bem como nesse dia! Ele estava iluminado, e talvez preconizasse a importância que o festival viria a ter para a posteridade! Mais tarde, quando lhe perguntaram se ele sabia que iria gerar tanta polêmica com a performance de Star Splanged Banner, ele declarou apenas dizendo Eu achei que foi lindo”. Hoje, é sabido que a grande vitória da Geração Woodstock foi ter conseguido arrancar os Estados Unidos do Vietnã.



Hendrix interpretando Star Splanged Banner

Bob Tequila, da comunidade Jimi Hendrix Brasil no Orkut, fez um belo comentário sobre essa apresentação:


“É uma multidão que admira silenciosamente o que ele está tocando. Há quase um clima religioso, um ritual pagão em ouvir, captar aquelas notas alucinadas, principalmente quando ele executa The Star Splanged Banner. A maioria do pessoal parece ser do sexo masculino e observa atentamente as notas que saem e o que os dedos, a língua e o cotovelo do MESTRE está fazendo. Mas os seus rostos atônitos parecem não acreditar no que ouvem!”


WOODSTOCK HOJE

Passadas quatro décadas, os debates discussões sobre sua importância persistem, e até hoje divide opiniões: enquanto uns dizem que Woodstock foi o fim de toda a ingenuidade e utopia que cercavam os anos 60, outros afirmam que foi o apogeu de todas as mudanças e desenvolvimento na sociedade. Hoje, cultores da onda hippie encaram Woodstock como “o marco final de uma era dedicada ao avanço humano”. Há ainda os que dizem que tudo aquilo foi apenas uma “festa dos infernos”... Mas numa coisa todos são unânimes: o festival foi evento cultural relevante não só para a história da música, mas para a história da humanidade e muitos saíram dali com uma visão totalmente diferente do mundo.

O escritor e jornalista Celso Lungaretti, 58 anos, sintetizou em poucas palavras, o que representou Woodstock:

“Woodstock foi o evento musical que mais influenciou as artes e os costumes na história da humanidade. (...) as gerações seguintes se desinteressaram de mudar o mundo, voltando a priorizar a ascensão profissional e social. O rock, depois de uma fase intensamente criativa e experimental, voltou aos caminhos seguros do marketing. (...) O sonho acabou? Talvez. Mas, quem o partilhou só lamenta que haja durado tão pouco e tenha sido substituído por uma realidade tão insossa.”


E as coisas mudaram mesmo: hoje, ironicamente, no museu local do estranhamente limpo Bethel, se lê avisos assim:

"Proibido utilizar drogas em público"; "Proibido instalar guarda-sóis ou barracas de acampamento"; "Não tocar música em alto volume"...



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segunda-feira, 28 de julho de 2008

OS GRANDES FESTIVAIS DE MÚSICA DE ÁGUAS CLARAS


Recentemente, tive o desejo de fazer uma página sobre os grandes festivais de Águas Claras, que ocorreram em 1975, 1981, 1983 e 1985 na fazenda Águas Claras em Iacanga/SP. O primeiro foi considerado "o maior festival de música brasileira a céu aberto". Foram verdadeiros woodstocks tupiniquins, e, hoje em dia, infelizmente, já não se fazem mais festivais assim. Mas como uma organizadora do festival - a iluminada Sétima Lua - já fez um blog, limitei-me a postar uma matéria aqui falando destes saudosos dias de música, paz amor e natureza ( e drogas...)! Abaixo, o cartaz de 1975.



Aqui, um trecho do depoimento que Sétima Lua fez, falando das bandas que participaram:

"Na 6a. feira à tarde a primeira banda a se apresentar foi a moçada da Orquestra Azul, e na madrugada da 2a. feira, se me lembro bem, o último show foi o do Terço, cuja tarefa hercúlea de encerrar uma maratona daquele naipe, foi muito bem desempenhada mostrando quem é bom faz ao vivo. Entre a primeira e a última banda, como esquecer o exótico buffet vegetariano do Antonio Peticov que alimentou nosso corpo e nossa alma; do big temporal que alguém vaticinou que ia, mas não foi; das peripécias do Arnaldo Baptista pela fazenda e sua antológica apresentação com a Patrulha do Espaço... sentado na platéia; da elegância do Terreno Baldio e dos charmosos arranjos do Moto Perpétuo; dos contagiantes Jazzco, Apokalypsis e Rock da Mortalha; da farra do Som Nosso de Cada Dia (alô alô Pedrinho Batera, onde quer que você esteja); dos times musicais Burmah, Mitra, Dan Rockabilly, Tony Osanah, Cogumelo (a banda) e tantas outras pérolas que subiram naquele histórico tablado."

Veja, só a galera e os hippies, na edição de 1975. Não mudou nada...



Um comentário deixado pelo Aranha:

"1975 foi diferente dos outros, mesmo porque era uma época diferente, público diferente e tudo mais diferente. Chegamos na terça feira e já haviam algumas barracas, pessoal com os quais repartiamos comida, gentileza e etc e tal, tudo com espírito solidário e muita qualidade. Dava prá ficar mais uma semana lá sem esforço. O encerramento foi o com O Terço mesmo, enfim, pura magia! Estive em todos os outros, todos muito bons mas 75 foi diferente."

O "woodstock brasileiro", em 1981. Revista:



Aqui vai o link do blog "Aguas Claras Festival":
http://aguasclarasfestival.blogspot.com/

Comunidade no Orkut:
http://www.orkut.com.br/CommTopics.aspx?cmm=431543&na=3&nst=-2&nid=431543-987281379-2491515398924004624

Fotos da Silene, no Orkut, dos festivais de 1981 e 1983:
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom.aspx?uid=5061372775480700106&pid=1227283585532&aid=1227175799$pid=1227283585532
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