sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

COMO TIRAR O MÁXIMO PROVEITO DA LEITURA DE UM LIVRO!!!

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Sempre quando leio um novo livro, tenho a velha e antiga mania de fazer à lápis nas páginas brancas iniciais um índice particular com os assuntos que me interessam, bem como ao longo de todo o livro fazer anotações, como "links" de páginas semelhantes, comentários, adendos e até mesmo correções, que um bom leitor não pode ser um leitor "passivo", que ele tem obrigação de contestar o que lê se não concordar com o autor. 

Mas, enfim, porquê faço isto? 


Pois bem: se eu tiver de voltar à pesquisá-lo, estas anotações me pouparão um tempo considerável, evitando que eu tenha de ler 
novamente o livro! A maioria dos meus livros são assim, "rabiscados" ao extremo! 

As páginas do livro inserido aqui mostram como fica o índice ao final da leitura!... Mas este é um caso extremo, reconheça-se!...



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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O "FESTIVAL DE DESENHOS" E O MAL ESTAR DO "DESENCONTRO" DA FÁTIMA BERNARDES COM AS CRIANÇAS!


A gente vê a grade de programação das redes de televisão das décadas de 1960 e 70, e constata que as crianças eram muito respeitadas e os programas infantis predominavam, seja de manhã, seja de tarde, seja à noite - era ligar a TV, o horário que fosse, e na maioria dos canais lá estava um entretenimento qualquer para as crianças se divertirem, como desenhos dos mais variados, séries, programas infantis de auditório, filmes, etc. 

Se comparadas à estes tempos, em que mesmo o horário que é exclusivo delas - o matutino - lhes é roubado, a coisa ficou preta mesmo, descambando para o puro descaso! Em se falando da Rede Globo, p. ex. - o caso mais gritante -, os programas "Bem Estar" (9:56hs) e o "Encontro com Fátima Bernardes" (10:40hs) foram ao ar justamente num horário que históricamente pertence aos baixinhos. Mas acontece que nenhuma criança quer ter o mal estar de encontrar com a marmanja e sem graça Fátima Bernardes num horário que é tão somente seu. O coqueluche das crianças, o "TV Globinho", no ar desde 3 de julho de 2000, passava de segunda a sexta-feira às 9:30hs, e no fatídico 22 de junho de 2012, deixou de ser exibido para dar lugar ao programa da insossa Fátima, sendo exibido apenas aos sábados, num total desrespeito à crianças!

Ironia do destino, o programa "Encontro" está em queda livre desde sua estreia e já tem audiência menor que o próprio "TV Globinho"!... 

E a Globo, absurdamente, vem apresentando um outro programa infantil, o "Festival de Desenhos", no absurdo horário das 4:00 horas da manhã - um tapa-buracos, na verdade -, período em que, invariavelmente, todas as crianças estão dormindo em pesado sono REM!... Este corujão da noite aqui, em suas noites de insônia é um dos que assiste este programa infantil!...

Para se constatar que tem treta envolvendo guerra de audiência nisto, vá lá no site da Globo e digite na busca: "Festival de Desenhos" para saber em qual horário ele está na grade de programação da emissora, e você nada encontrará, a não ser a menção ao especial dedicado às crianças com os melhores desenhos animados da televisão no dia 26/12/2013, que foi ao ar ao meio-dia, e o outro, igualmente, no dia 1º de janeiro!...

No entanto, não é de se descartar que os experts da Globo tenham levado em conta que não há porque passar programas infantis durante a semana, já que a maioria esmagadora das crianças que assistiam à esse programa estão nas creches durante todo o dia, justamente os baixinhos da faixa etária que ainda não está escravizada aos aparelhos celulares, computadores, jogos, vídeos, redes sociais e aplicativos. 

Programação da Rede Globo em 1973: metade da grade diurna, ou seja, seis horas de programação, eram dedicadas às crianças, com desenhos, séries e filmes.




Mas agora, em pleno raiar do ano da graça de 2014, uma "auspiciosa" notícia vem nos assustar dizendo que crianças de apenas dois anos já estão dominando estes aparelhos, e dominando com mais destreza que seus próprios pais!

Enfim, como se vê, a sentença fatal de Einstein parece que começou a se cumprir: "Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas". Não que as crianças sejam idiotas, mas elas, infelizmente, vem sendo sistematicamente idiotizadas, ora pela TVs, ora... pelos próprios pais!...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A ESTRANHA CHAMINÉ DA FAZENDA SÃO JERÔNIMO! UMA VERDADEIRA OBRA-DE-ARTE!


Quer conhecer, amigo, uma chaminé que é uma verdadeira obra-de-arte, uma joia de desafio e precisão arquitetônica? Então vai dar uma olhada na chaminé que existe na fazenda São Jerônimo, à sudeste da Usina São João!

Ela começa mais larga na base que na abertura acima, como toda chaminé, mas depois, estranhamente, vai se alargando mais e mais, mas de maneira muito sutil, quase imperceptível, de modo que da base até o abertura final não resultou numa linha reta, como é normal em todas as chaminés, mas uma curva levíssima que pode passar desapercebida aos desatentos! Imagina a maestria do construto para assentar tijolos assim, milimetricamente, para causar esse feito, efeito que se nota mesmo à distância!

Segundo o senhor Geraldo Botezelli (92 anos em 2021), ex-funcionário da usina São João, esta chaminé possui aquela dilatação sutil ao longo de sua estrutura que é para funcionar como uma espécie de sifão e dar embalo à emissão de fumaça.

Se estou certo no que vi, esta chaminé tem que ser estudada por meios matemáticos para se saber como conseguiram fazer esta façanha para lá de desafiadora! Para mim, é coisa de construtor de pirâmides!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

OS 20 PRINCIPAIS LIVROS DE MINHA VIDA



01- "Poesias Completas" - Fagundes Varella, 1965 - minha bíblia da natureza.

02- "Português para o Ginásio" (série) - José Cretella Jr. , 1953 - a literatura brasileira nascia para mim e me cativava para sempre (eram três livros que herdei de meu pai, do seu tempo de estudos de Contabilidade. Ainda tenho dois deles, e guardo-os como um tesouro).

03- “Os Mistérios do Firmamento” - Domingos Grachet, 1949 - o livro que foi meu cicerone do céu.

04- "Discos Voadores" - Desmond Leslie e George Adamski, 1952 - o livro que me fez gostar de discos voadores e do cheiro dos livros antigos.

05- "Os Devaneios do Caminhante Solitário" - Jean Jacques Rousseau - o amor pela solidão em meio à natureza.

06- “Atlas de Astronomia” do Ignácio Puig, 1965 - livro argentino fantástico e cativante sobre Astronomia.

07- "Céus e Terras do Brasil" - Visconde de Taunay, 1882 - o primeiro mestre na arte de escrever sobre a natureza.

08- "Caçando e Pescando por Todo o Brasil" (série à partir da década de 1930) - Francisco Barros Jr. - o segundo mestre na arte de escrever sobre a natureza.

09- “História Natural das Aves do Brasil”  - J. Th. Descourtilz, tradução: Eurico Santos, 1944 - o terceiro mestre na arte de escrever sobre a natureza.

10- “A Lua - Satélite Natural da Terra” - Franklin M. Branley, 1966 - a Lua palmo a palmo.

11- "Revista Combate" - Edit. Taika, déc. 1969-70 - os aviões da II Guerra entram na minha vida.

12- “Não estamos sós” - Walter Sullivan, 1971 - a primeira porta do céu aberta para mim.

13- “O Feijão e o Sonho” - Orígenes Lessa, 1938 - o entender  os artistas excêntricos.

14- "Geração POP - 1972-1979" - Edit. Abril - a minha bíblia do rock.

15- "Inocência" - Visconde de Taunay, 1875 - o mais tocante romance.

16- "Coleção Vovô Felício" - 6 vol. - Vicente de Paulo Guimarães, 1965 - meu primeiro contato com a literatura infantil.

18- "Manual do Escoteiro Mirim" - Walt Disney, 1971 - o primeiro guia da natureza.

19- "Os Bichos" - 6 vol. - Edit. Abril, 1974 - a biofilia entra na minha vida definitivamente.

20- "Os Meus Balões" - Santos Dumont, 1938 - o amor pela aeronáutica.

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

RÁPIDAS OBSERVAÇÕES SOBRE O CURIOSO CICLO ALIMENTAR DO PÁSSARO MARTIM-PESCADOR


Lá estava ele, pousado num galho de sangra-d'água a fitar paciente o calmo espelho das águas do lago abaixo de si. À sombra, mantinha-se imóvel e vigilante, mas de quando em quando, um leve levantar da cabeça traíaa sua presença. 

Subito, ele defeca nas águas e peixinhos afoitos pululam sobre os dejetos. Num átimo, o pequeno pássaro se deixa cair sobre o cardume, e logra caçar um deles. Ele volta ao galho, engole o peixinho e enquanto faz a digestão, espera que outros peixes ressurjam. Um peixe solitário é atraído por um novo dejeto, e, após degluti-lo, habilmente consegue escapar da nova investida do vertiginoso mergulho do pequeno pássaro.

Notai então, caro leitor, um curioso fato , o dos peixinhos que escapam e ainda assim conseguem se alimentar dos dejetos, pois se alimentam daquilo que provavelmente se tornarão se caçados pelo martim-pescador: os próprios dejetos de que eles também sobrevivem. 

Se analisarmos mais fundo, notaremos então que, na verdade, há dois ciclos: um, o do peixe, que é uma espécie de "canibalismo" escatológico, já que ele come dejetos compostos por peixes digeridos; o outro, o da alimentação do martim, onde ele come o peixe que se alimentou de seus próprios dejetos! Estranhas maravilhas da natureza, amigos!



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

LEÃO DO NORTE - "Bebida amarga da raça, que adoça o meu coração"


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Leão do Norte, acreditem, ao contrário da onipresente Coca & Cola é uma bebida impossível de se imitar, e digo mesmo de se  chegar à um sabor próximo ao que ela possui. Há inúmeras no mercado (Boite Show, Cangaceiro do Norte, San Martin,Trago Forte, etc.), mas nenhuma se equipara à ela.

A Pepsi conseguiu a façanha de parear com a Coca, mas a danada da Leão do Norte, ah, nunquinha, essa ninguém falsifica!

Quem a conhece, como eu conheço - e digo isto de "carteirinha" -,  identifica-a de olhos fechados - só pelo aroma -, e ninguém presisa ser um organoléptico para decifrá-la - uma simples provada em seu aroma, dentre todas as outras jurubebas colocadas à prova numa bateria de testes, basta para identificá-la imediatamente. O sabor também, é inimitável - amargor sui generis ao paladar.


Assim como o  Campari, ela é uma  bebida de sabor amargo, mas, convenhanos, o giló é o chimarrão seriam tão gostosos se não tivessem o amargor característico? Pois é, é no seu amargor peculiar que está o seu segredo, o seu charme...


A Leão do Norte é uma  bebida clássica, de tradição, "resultado da feliz combinação de vinho Tinto de mesa rio-grandense da melhor procedência (70%), macerado de frutas de jurubeba, associados a extratos alcoólicos de plantas aromáticas, decotos de plantas amargas, xarope de açúcar de cana e álcool etílico potável", segundo reza o rótulo no verso da garrafa. As propriedades medicinais das plantas que a compõem, vale dizer, são incontestáveis e afamadas - possuem qualidades hepáticas, digestivas, tonificantes e até  mesmo afrodisíacas!

Para finalizar, aproveito para elogiar esse "néctar dos deuses", citando o grande e saudoso  escritor, poeta e  folclorista dos pampas do Rio Grande do Sul, José Simões  Lopes Neto:

"Bebida amarga da raça, que adoça o meu coração."


HISTÓRICO SOBRE A BEBIDA

A empresa foi fundada em 1920, na cidade de Feira de Santana. Em 1932, mudou-se para Salvador a fim de melhor atender ao desenvolvimento das vendas e da área de consumo do seu produto JURUBEBA LEÃO DO NORTE.
Sua sede definitiva, edificada no Centro Industrial de Aratu em terreno de 125.000m2 e 12.000m2. Maquinário e equipamentos atualizados permitiram à indústria alcançar um alto índice de automação e produtividade.
O produto fabricado, em cuja composição, de acordo com a lei, entram 70% de vinho do Rio Grande do Sul da melhor procedência, é armazenado em dornas uniformes com capacidade para três milhões e meio de litros. Todos os componentes são analisados em laboratório de análises enológicas e bacteriológicas da própria fábrica, que dispõe de cromatógrafo computadorizado.
A fórmula e os processos de fabricação estabelecidos pelo fundador Paulo da Costa Lima, são obedecidos rigorosamente, o que justifica o conceito e a crescente aceitação do legítimo JURUBEBA LEÃO DO NORTE em todo território nacional, bem assim com as honrarias que lhe foram conferidas, desde os primeiros anos:
  • Diploma de honra do instituto Agrícola Brasileiro - antigo Ministério da Agricultura (1927);
  • Medalha do Ministério da Justiça e negócios internos, na Exposição do Centenário da Independência (1922);
  • Grande Diploma de Honra dessa mesma entidade (1936);
  • Medalha na Exposição Feira Mundial de New York (1936), entre outras.



A PRIMEIRA INDÚSTRIA DE FEIRA (do texto "A Feira Antiga", blog de Antônio do Lajedinho)

Não sei exatamente a data da fundação da Fábrica Leão do Norte, mas lembro-me dela em 1930 situada entre os fundos da Prefeitura e o ABC (hoje, avenida Sampaio). Era a única construção em meio a um grande matagal. Ocupava uma área de uns 20.000 m², incluindo a chácara com a residência do seu fundador e proprietário, Paulo Costa Lima, o químico que criou a famosa Jurubeba Leão do Norte.

A fábrica tinha uma grande área construída dividida em escritório, salão das dornas onde ficavam umas 15 delas de 2 a 4 mil litros, salão de engarrafamento, rotulagem e acabamento, sala de carpintaria e embalagem, galpão de moagem com as primeiras máquinas a motor, sala de produção onde se faziam as bebidas, sala de tanoaria, sala de lavagem de garrafas, além de vários depósitos para carroças, dependências para operários e um sem número deles.

Durante todos os dias da semana havia muito movimento de carroças transportando caixas e barris de bebida para a Estação Ferroviária e para o comércio local. Nos dias de segunda-feira, dia da feira local, a fábrica ficava tomada de animais de carga que vinham de toda parte comprar bebidas e vinagre.

É díficil de se acreditar que uma cidade até então tão pequena tivesse uma fábrica daquele porte, mas era tão grande e boa que Feira ficou pequena para ela e o Paulo Costa Lima levou-a para a capital onde mais se desenvolveu e ainda hoje tem nome no Brasil e no exterior - a Jurubeba Leão do Norte, nascida em Feira de Santana.  

A minha permanência na Marinha durante a Segunda Grande Guerra e posterior residência em fazenda no sertão, me afastou da família de Paulo Costa Lima, mas como bom feirense não esqueço de D. Senhora nem dos seus filhos, especialmente Vivaldo, que era dos mais novos senão o mais novo. E já que falei em bom feirense, que tal se os senhores vereadores, nascidos ou residentes aqui, que também são feirenses, trocassem um desses nomes de rua como Los Angeles, Buenos Aires, Ayrton Senna etc. pelo nome do respeitável Paulo Costa Lima numa justa homenagem ao primeiro industrial de Feira de Santana, ao homem íntegro, ao pai que deu filhos ilustres a Feira de Santana, como foram todos os seus filhos. Vamos ser menos ingratos com os antepassados que conduziram Feira ao alto do progresso. Esquecer ou negar o nome de homens que fizeram a história da cidade não é só ignorância e ingratidão: é uma covardia.


Jurubeba Leão do Norte: foi o marketing que lhe deu vida (do site Memórias da Bahia)

Em 1920 Paulo da Costa Lima, tio me parece (não tenho certeza) do saudoso Epaminondas Costa Lima, criou a organização Jurubeba Leão do Norte, uma indústria de bebidas com base no extrato da árvore do mesmo nome, amarga de verdade. Na infusão com a cachaça e outras ervas como a quina, na época prescrita para a febre amarela e mais o popular e rasteiro fedegoso, ganhava um gosto menos carregado do cheiro original da casca.

Quase cem anos já se passaram e o produto continua a ser fabricado e tem grande aceitação ainda no interior do Estado e no Nordeste. Antes sugerido como digestivo e estimulante hoje é degustado na esperança de aumentar a potência sexual e nos bares é consumido como cachaça mesmo, uma dose atrás da outra. Foi o marketing que deu longa vida a este produto, uma das marcas de maior recall entre as indústrias de bebidas regionais.

Já nos anos 20 publicavam-se anúncios nas revistas como o deste post com um apelo medicinal. Não era propaganda mentirosa, mas um modismo da época de tratar os vinhos de folha como estimulantes com efeitos terapêuticos e recomendavam-se doses mínimas. Produtos similares como o Elixir de Nogueira, ou o Licor de Tayuyá seguiam a mesma linha discursiva na sua propaganda.

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

JIMI HENDRIX, O "DOMADOR DE RAIOS": O ESTILO E A ARTE DA IMPROVISAÇÃO

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O guitarrista Faiska - músico que admiro, que dispensa apresentações e é mestre em seu instrumento -, em recente entrevista à revista Guitar Player (nov. 2013), declarou num determinado trecho que "Ninguém improvisa o tempo todo. Solos inéditos, em minha opinião, não existem. Sempre nos repetimos e isso é que faz o estilo de cada um." Discordo da opinião do Faiska, e acho até contraditória sua colocação, pois subentende-se que quem está improvisando está criando coisas novas, inéditas...


Há pelo menos um músico, ao qual, pela sua própria genialidade, a opinião do Faiska não pode ser aplicada: nada mais nada menos que Jimi Hendrix. No meu entender e conhecimento, após décadas e décadas ouvindo e dissecando o estilo e a genialidade de Jimi, acredito que existem sim músicos que fazem solos inéditos, e que nem sempre os músicos se repetem improvisando. Mas acontece que o jazz, p. ex., está cheio deles. A verdadeira repetição só se dá à quem execute um solo através de uma partitura, e, do contrário, o que um guitarrista faz no máximo é repetir os truques e licks que aprendera, fazendo variações na escala. Na verdade, não esqueçamos que mesmo se executando uma música através de uma partitura, há execuções boas e ruins - a inspiração e interpretação contam muito -, e, p. ex., mesmo a versão de um maestro e sua orquestra para um famoso tema clássico pode ser superior à de outro maestro.

Quero afirmar com isso, que o Jimi Hendrix é um caso à parte, pois houveram coisas incríveis que ele fez que só se realizaram no momento da interpretação. Hendrix não planejava os solos, mas, com certa frequência, criava coisas na hora como que tirando truques inéditos da manga ou da cartola - era imprevisível, ao contrário da maioria dos melhores guitarristas de rock. Raros são os guitarristas sem vícios e clichês, que improvisam e criam coisas do nada - a maioria, ouvindo-os improvisar, a gente quase advinha o próximo passo que eles irão dar, fato que não se dá com o Hendrix! Ouvir Jimi improvisando era ouvir um músico inspirado e criativo inventando coisas jamais ouvidas - a coisa nascia ali, na hora, ao vivo! Há um termo em latim que define bem isto: Ex nulla re, ou seja, a criação de coisas a partir do nada.

O próprio engenheiro de som de Hendrix, o Eddie Kammer, definiu bem isso: "Sempre que ele fazia alguma coisa no estúdio - tocava uma guitarra ou usava um pedal - era um acontecimento. E eu ficava pensando: 'como vou fazer com que isso fique ainda melhor?'" Lembremos que um "acontecimento", por definição, é sempre uma coisa nova e inédita.

A pergunta que fica é: como é que ele poderia criar truques tão maravilhosos - verdadeiras joias da arte da improvisação -, e depois nunca mais repeti-los? Seria, antes que um desperdício, um enorme contra-senso. E convém não esquecer - o que é estranho -, que ele costumava gravar todas as  jams e shows que podia para ouvi-los depois e ver o que era aproveitável!...

No disco "The Genius of The Jimi Hendrix", lançado no Brasil em 1978, e com sessões de gravação feitas em 1966 (vídeo abaixo), pouco antes de ele ir para a Inglaterra, aos 4:50 minutos da canção "People, people", o Jimi faz um lick de blues tradicional, mas ao seu modo - de uma maneira inusitada e genial -, mas em tudo o que já ouvi dele depois - o que não é pouco -, ele nunca mais repetiu este lick desse modo! Ele foi utilizado em outros blues seus, mas nunca tocados dessa maneira.


"Peoples, Peoples" (1966)

Basta ouvir as várias versões de "Machine Gun" e "Hear My Train a Coming", e até mesmo (absurdo!) de "Little Wing", para constatar que Hendrix improvisava o tempo todo, mas sempre contava a mesma história de uma maneira diferente. Não há como negar que a versão de "Hear my Train..." do disco "Rainbow Bridges" (show em Berkeley, na California, no dia 30-5-1970), é fantástica e diferente de qualquer outra (veja o vídeo abaixo). A versão de "C# Blues - Bleeding Heart (People, People)", do disco "Experienced" (ver vídeo abaixo, trilha sonora do filme, de show no Albert Hall, Inglaterram 24-2-1969), é um caso à parte, uma versão onde ele faz coisas jamais feitas em outras versões, e muito provavelmente são as tais coisas inéditas que o Faiska não acredita... O desfecho da música é lírico, sutil e elegante, e não me recordo de ele finalizando um outro blues seu dessa maneira.



"Hear my Train a Coming"



"C# Blues - Bleeding Heart (People, People)"

Acredito que o solo mais violento, e um dos mais indecifráveis, que o Jimi fez em toda sua carreira, foi numa apresentação em um show no programa da cantora Lulu (a do "Ao Mestre com Carinho"), onde o Jimi destilou toda a sua raiva e violência após saber que a cantora havia depreciado o Cream com suas opiniões a respeito da banda. À partir dos 2:57 minutos da execução de "Voodoo Chile" (vídeo abaixo), não sei como, ele faz a guitarra rosnar e bufar agressivamente! - parece que ela vomita o som e o arremessa contra o ouvinte! Aliás, acho isto a coisa mais violenta jamais feita por um guitarrista de rock! Coloque em alto e bom som e tente entender o que ele fez, pois a câmera não mostra, infelizmente! Não estou falando em violência de solos tipo "Eruption" ou um solo ultra rápido do Malmsteen - a coisa é outra: ele "humaniza" o solo, ou melhor, a guitarra tem voz animal, orgânica e sentimentos de raiva! O trecho começa com um silvo ou assovio incomum numa guitarra, e depois descamba naquela agressividade toda, que deixa entrever toda a sua raiva ante o posicionamento infeliz da cantora. 

Outro ponto interessante deste show, foi em relação ao som do contrabaixo, que estava demais. E deve ter sido este timbre e potência de contrabaixo que, certa vez, embasbacou o guitarrista Larry Coryell, que assitia à um show da banda, quando afirmou que era o melhor som de contrabaixo que ele havia ouvido para esta linguagem!


E o mais incrível é que eu nunca mais vi ele fazendo isto do mesmo modo em outro solo durante toda sua carreira, porém, na canção "House Burning Down" (vídeo abaixo, ver aos 3:58 minutos), do disco "Eletric Ladyland", há outra variante desse truque que pode ser ouvida ao longo da música, mas não com o mesma violência com que foi empregada no show do programa da Lulu.


"House Burning Down"

Para fechar este texto com um exemplo primoroso da arte de Jimi Hendrix, como afirmar que a interpretação do Hino Nacional Norte-Americano em Woodstock foi uma repetição, se Jimi nunca improvisara esta canção daquele modo?! A versão pode ser julgada numa palavra: perfeita! Como dizer que alguém não faz coisas inéditas e se repete, usando tudo o que havia ao seu alcance para interpretar uma música? Além das cordas, alavanca, pedais e palheta, havia o pedestal do microfone, um anel ocasional, o cotovelo, os dentes e o genial uso controlado da microfonia?! "Star Spangled Banner", na versão de Woodstock, é - me permitam um neologismo - irrepetível, uma versão que músico algum conseguirá executar e interpretar como Jimi, que ele fez, acredito, coisas indecifráveis ali que só um gênio faria!

Enfim, amigos, a verdade nua e crua é que Hendrix era um improvisador por excelência, no que ele ultrapassava os limites da lógica. Em suma, ele era a própria definição do seu estilo em particular - tinha sua própria marca registrada sonora, e não foi à toa que a crítica de rock Ana Maria Bahiana criou uma excelente expressão para definir a maestria de Jimi: "Domador de Raios"!... 


"Star Spangled Banner" - Woodstock, 1969